"Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse um verme dentro de um fruto e fosse roubando desse fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento da evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então, para que eu não seja engolida pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa, eu cultivo um certo tédio. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto." (Clarice Lispector)Tomei emprestadas as palavras de Clarice como introdução para mais um post sobre a "Land Art" cuja característica marcante está no efêmero, palavra de origem grega: "ephémeros", que significa "apenas por um dia" designando o que dura muito pouco. A efemeridade da vida é uma expressão muito usada para lembrar que ela é passageira, e por isso, é imperioso que cada instante seja vivido intensamente. Um dia de cada vez, hora a hora minuto a minuto... Nesse sentido, a arte efêmera e suas discussões estão muito relacionadas ao mundo em que vivemos, conhece-la nos possibilita a reflexão sobre a temporalidade, tudo o que é transitório e sobretudo como devemos valorizar nosso tempo...
Criar instalações épicas sobre paisagens poéticas, tendo a efemeridade como expressão artística desenvolvida por acontecimentos que a tornam uma arte passageira é o que o artista Gerry Barry desenvolve dentro da tradição da "Land Art". Para isso, ele utiliza como matéria prima na criação de suas obras, materiais orgânicos como pedras, água, areia, penas, juncos, ramos, etc, tendo como pano de fundo as belas paisagens da Irlanda rodeadas de montanhas, lagos e mares que se integram às obras de arte efêmeras que podem durar um dia ou uma década.
A água é um elemento chave de grande influência no trabalho de Gerry Barry. Associada à pureza e à fonte da vida exerce em Barry uma atração fazendo com que ele desenvolva sua arte sobre a água ou perto dela. Pedras e rochas arredondadas de tamanhos variados são cuidadosamente selecionadas pelo artista que as organiza de diversas formas ao longo da costa.
O movimento das marés atinge as instalações de maneiras diversas proporcionando novos olhares a cada dia. Com um foco pesado em simetrias, círculos e curvas, suas instalações são dispostas com precisão sobre as paisagens de forma harmoniosa atribuindo à elas um sentido poético.
Barry também explora outras temáticas fora da água em criações que utiliza o paisagismo com padrões circulares escavados, além de criar depressões rasas sobre o solo para que sejam invadidas pelas águas da chuva até chegar ao padrão por ele desejado.
Apesar do carater efêmero da Land art, muitos trabalhos de Gerry Barry são feitos para serem permanentes, ou melhor, para terem a maior duração possível, uma vez que são deixados a mercê das intempéries que fatalmente causam a deterioração dos elementos através do envelhecimento, e até mesmo algum movimento decorrente das forças do vento, água e sol.
De acordo com os princípios do movimento da Land Art, as instalações são destinadas a coexistir com os elementos da Natureza, que são eles próprios um trabalho em constante mudança de arte.
Segundo Gerry Barry, o processo de criação varia entre executar deliberadamente uma visão planejada, até a descoberta de objetos e locais que naturalmente irão criar uma nova peça.
"Eu posso passar horas procurando formas particulares de pedras, tamanhos, cores, então eu suponho que, nesse sentido, cada busca é um caminho onde sigo procurando e encontrando para criar algo que pode durar uma hora, um dia ou até que a Natureza faça sua própria marca, e que o tempo faça com que o trabalho desapareça."
A mercê dos elementos, a arte da terra pode ser destruída ou recuperada pela Natureza em qualquer tempo, adicionando uma sensação fugaz de beleza efêmera à obra mediadora. Muitas das obras de Gerry Barry, ainda podem ser encontradas, apesar de muitas delas estarem suportando as forças da Natureza e da civilização desde que foram instaladas em meados de l970.
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A observação da Natureza com ou sem as intervenções da Land Art, nos possibilita perceber que existir está além de estar vivo. O tempo da existência humana traz consigo a responsabilidade que lhe é inerente, pois tudo é tão rápido que muitas vezes não nos dá tempo de termos uma consciência clara da realidade. Por isso é preciso muitas vezes nos dar um tempo para sentir a brisa que o vento traz, sentir o calor do sol, nos abrirmos para novas paisagens e buscarmos o equilíbrio necessário à todo o peso de existir.
"O tempo só passa depressa quando estamos envolvidos com algo que nos faça prestar mais atenção no momento que no ponteiro do relógio." (Felipe Magister)
Aproveite seu tempo da melhor forma possível.
Abraços,
Sejamos Felizes!
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Fontes: inhabitat, mymodernmet, Gerry Barry Terra obras.