Vestígios do Passado no Presente

sábado, maio 17, 2014


A arqueologia tem mostrado que nossa civilização tem percorrido muitos caminhos ao longo do tempo. Como ciência social, estuda as sociedades já extintas através dos seus vestígios materiais, como por exemplo, os objetos considerados arte ou não, e também através das intervenções do homem no meio ambiente. Ao desvendar vestígios, a Arqueologia faz emergir elementos de reflexão sobre o comportamento humano e sua atuação ao longo de sua história.  E, como peça chave fundamental, tanto para a história como para a arqueologia, a Arte em seus vestígios, é vista como um veículo para a manutenção, reprodução ou transformação da sociedade. E nesse sentido, é também considerada patrimônio cultural, pois esta intimamente relacionada com a identidade a cultura ou o passado de uma civilização.


A relação com a identidade e cultura, estendida como herança de um determinado grupo, inspirou a Arte de Rob Mulholland, intitulada, "Vestígios",  fundamentada em mudanças históricas recentes sobre uma comunidade perdida na Escócia, remetendo à  tantas outras perdidas ao longo da história, numa espécie de identificação com uma "Ancestralidade Universal". Sua Arte é uma mistura de trabalho pessoal e trabalhos comissionados, como no caso de sua série "Vestígios" encomendado pelo David Marshall, centro de visitantes da verdejante Floresta de Aberfoyle, na Escócia, onde constam como acervo permanente do local no presente, e que provavelmente, serão vestígios num futuro não muito distante.


Rob Mulholland, é um artista escultor ambiental, contemporâneo, Escocês, cuja obra escultórica exibida em instalações, na maioria das vezes, promove uma abordagem reflexiva ao explorar a relação humana com o ambiente em geral. Sem ser crítico, o artista propõe com seu trabalho, que consideremos a relação simbiótica que temos com o nosso ambiente natural e antrópico.

Essa relação, simbiótica e antrópica é bem evidenciada nas obras da série "Vestígios", criada a partir de silhuetas humanas recortadas sobre uma chapa de perpex, que é uma espécie de vidro acrílico, que sobreposto em lâminas de aço inox, transforma-se numa espécie de espelho.


Segundo o artista, as silhuetas das figuras humanas representam um vestígio, um leve traço de passado de uma comunidade de pessoas que viveram no espaço onde as obras se encontram. As superfícies das obras refletem as mudanças diárias da vida na floresta. Elas criam uma noção visual do espaço, mas não como objetos a parte do contexto, e sim em simbiose com a floresta, quando se tornam esboços intangíveis ao se confundirem com o espaço.


Minha prática tem como objetivo, explorar todos os aspectos da vida. Estou interessado no tema da ancestralidade e continuidade. Nosso mundo está em constante fluxo e as nossas próprias vidas pessoais são moldadas por forças políticas e sociais que fogem ao nosso controle. Quero comemorar o individual, explorar a ressonância que temos com o meio ambiente natural e transmitir como somos afetados pelas forças elementares da vida e da criação.

(Rob Mulholland)

Como que camufladas, as peças criam um efeito estranhamente dúbio ao se misturarem com o entorno refletido sobre suas superfícies que, num momento fazem com que desapareçam ao ficarem totalmente camufladas, e sob um outro ângulo, saltam para fora do contexto, chamando a atenção sobre como nossa perspectiva pode mudar com relação a forma como olhamos para o que temos ao nosso redor.



As esculturas quase imperceptíveis camufladas pelos seus arredores, têm uma qualidade misteriosa que tem sido comparada por muitos com o predador do filme de mesmo nome da década de 80, cujo personagem, absorve inteiramente o que quer que lhe interesse ao seu redor.


Saiba + sobre Rob Mulholland AQUI.
São inúmeras as possibilidades de interpretar a vida humana através da cultura material, e nesse sentido,  a parceria entre história e arqueologia são de grande importância para desvendar os vestígios do passado para que possamos compreender como chegamos ao presente. Com relação a Arte, por ser um  meio de expressão humana, sua contribuição na construção da história de muitas civilizações é muito relevante. Decifrar seus vestígios constitui uma tarefa fundamental para que civilizações futuras possam compreender o nosso presente.

Mas não se afobe não, que nada é para já (...) sábios em vão tentarão decifrar o eco de antigas palavras, fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos, vestígios de estranha civilização. (...)

(Chico Buarque de Holanda)


Abraços,
Sejamos Felizes!

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(Pe. Fabio de Melo)